Estudantes brasileiros sofrem para morar em Portugal, saiba mais
O primeiro teste para os estudantes brasileiros é encontrar um lugar para viver em Portugal. As aulas começaram este mês com menos 7,9 mil quartos disponíveis para os universitários, incluindo portugueses e estrangeiros. O preço médio do aluguel subiu 10% em todo país.
Os dados foram apurados pelo Portugal Giro nos relatórios do Plano Nacional para Alojamento no Ensino Superior (PNAES).
O aumento do preço médio é ainda maior nas grandes cidades, com o Porto à frente. Um quarto na Cidade Invicta passou de € 250 (R$ 1,3 mil) há um ano para € 324 (R$ 1,7 mil) este mês, diferença de 29,6%. Na capital, o valor médio chega a € 381 (R$ 2 mil), uma subida de 16,8%.
Ao procurar um teto, um estudante pode se deparar com os preços acima da média e até superiores aos máximos verificados pelo Observatório do Alojamento Estudantil: € 595 (R$ 3,1 mil) em Lisboa e € 609 (R$ 3,2 mil) no Porto.
Depois de esperar dois meses pelo visto, que só recebeu na última semana, como mostrou o Portugal Giro, Luís Eduardo Faria Dal Posso saiu atrasado na busca pelo quarto. Ele chegará quarta-feira no Porto sem saber ao certo onde vai morar.
— Peguei um Airbnb por 10 dias e nesse período irei procurar lugar para ficar. Mas, no geral, está meio caro agora. Espero que, estando lá, eu consiga achar — disse ele.
Posso começou a busca on-line e revela o que tem encontrado. Chegou a receber como resposta pelo WhatsApp a oferta de um quarto com cama de casal a € 750 (R$ 3,8 mil), com despesas incluídas para duas pessoas.
— Apenas o aluguel de um quarto, em média, estou achando por € 370 ou € 400. O problema é que muitos querem muita coisa para fechar contrato, como dois ou três meses de aluguéis adiantados, caução e fiador — contou Posso.
São despesas que não estavam previstas e aumentam o prejuízo do brasileiro. Pela demora na resposta do visto, Posso trocou a passagem aérea que havia comprado por R$ 2,8 mil. Com o acréscimo, o valor saltou para R$ 7,2 mil. Fora os custos com os dez dias de hospedagem no Airbnb.
Quem não é estudante e nem mora nas grandes cidades também sofre para alugar imóvel. É o caso da brasileira Alessandra Guerche, engenheira civil que vive em Albufeira, no Algarve.
— Aluguei apartamento de dois quartos em 2021 por € 600 (R$ 3,1 mil) e o dono pediu que saíssemos até dezembro. Estou na corrida para encontrar um igual, que agora está entre € 900 (R$ 4,7 mil) e € 1,2 mil (R$ 6,3 mil). E só contrato até maio de 2023, por temporada. Fico imaginando como será quando entrar mais gente no país — declarou Guerche.
Na última sexta-feira, enquanto Posso pesquisava quartos pela internet, uma multidão de alunos era recepcionada na Universidade do Porto, onde o brasileiro irá estudar. Quem já está na cidade, e muitos chegam de outros municípios e países, aproveita para visitar imóveis. Quando encontram algum disponível.
Há cerca de 409 quartos disponíveis no Porto, são menos 493 (- 54%) em relação ao último ano. Já Lisboa teria perdido mais de mil quartos e saiu dos 2.051 para 854 (- 58%).
Em todo o país, eram 9,8 mil quartos disponíveis para estudantes em setembro de 2021. Oferta que despencou para 1,9 mil este ano (- 80%).
Este cenário de pouca oferta acontece em meio ao segundo maior número de universitários aprovados na primeira fase em Portugal, cerca de 50 mil. Mas aproximadamente 118 mil portugueses saem da casa da família para estudar em outra cidade.
Uma das explicações para a escassez está na recuperação do turismo aos níveis pré-pandemia de Covid-19. Os quartos de proprietários privados estão sendo alugados para turistas, com alta rotatividade.
Outra hipótese: prevendo o recente limite do preço dos aluguéis para combate à inflação, proprietários fecharam contratos longos, de mais de um ano, e os imóveis escoaram no mercado. Um aluno tende a alugar durante o ano letivo e devolver o quarto nas férias porque não consegue pagar.
Quem tem bolsa de estudo e não obteve vaga nas residências estudantis pode se candidatar para um apoio do governo de até € 265 (R$ 1,3 mil) para pagamento de aluguel.
O governo anunciou mais € 72 milhões ao aporte inicial de € 375 milhões previsto no Plano de Recuperação e Resiliência para ter 26 mil camas nas residências. Mas este prometido reforço só chegará em 2026.