Vejas as regras para novo visto de trabalho para Portugal
A última etapa necessária para a abertura formal das candidaturas aos novos vistos de trabalho de Portugal foi concluída nesta sexta-feira (30). O decreto com as diretrizes para o documento voltado a brasileiros e demais cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi publicado no Diário da República, versão lusa do Diário Oficial. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
A regulamentação entra em vigor em 30 dias, mas o início efetivo dos processos de candidatura ainda não foi anunciado.
De acordo com o texto, os candidatos ao visto —que estabelece prazo de 120 dias, prorrogável por mais 60, para que estrangeiros sejam contratados— precisarão comprovar que têm recursos financeiros para se instalar no país.
A regulamentação exige valor equivalente a ao menos três meses de salário mínimo, hoje de € 705 (cerca de R$ 3.700). Quem não dispuser do valor de aproximadamente € 2.115 (R$ 11,1 mil) ainda terá a alternativa de apresentar um responsável financeiro.
Este, por sua vez, precisa ter cidadania portuguesa ou ser estrangeiro com residência legal em Portugal e deverá assinar um termo de responsabilidade em que se compromete com despesas do candidato com alimentação, alojamento e eventuais custos de afastamento do país em caso de permanência irregular.
Se não conseguirem um emprego após o período estipulado, os imigrantes devem sair do país, só podendo apresentar novo pedido um ano depois do fim da validade do visto anterior.
Também recém-criado pelo governo, o visto para nômades digitais e profissionais que prestam serviços para empresas de fora do país exige montante mais elevado: será preciso comprovar um rendimento médio mensal, nos últimos três meses, de ao menos quatro salários mínimos, ou € 2.820 (R$ 14,9 mil).
Os candidatos para essa modalidade podem ser freelancers ou profissionais contratados, devendo apresentar documentos que comprovem vínculo empregatício ou de prestação de serviços. Em todos os tipos de visto, autoridades também farão uma verificação de antecedentes criminais —no Brasil e em Portugal.
Para Anna Araújo, advogada especialista em imigração, as mudanças representam uma ampliação significativa das possibilidades de mudança legal para Portugal. “Nossa aposta é de que vai haver um aumento significativo na procura”, afirma.
Na avaliação dela, embora o processo seja simplificado, o planejamento antes da candidatura e da mudança é essencial para garantir a tranquilidade e a segurança do processo. “Portugal é um ótimo local para se viver, mas também tem seus desafios.”
A advogada destaca ainda que a regulamentação não acaba com as dúvidas sobre a atribuição de números de identificação fiscal (similar ao CPF no Brasil), de Segurança Social e de registro no Sistema Nacional de Saúde àqueles que obtiverem os vistos.
Estrangeiros frequentemente têm dificuldade em obter os “números mágicos”, como ficaram conhecidos os registros que garantem acesso a direitos básicos. “Está na lei que imigrantes têm de ter acesso junto com os vistos, mas a regulamentação não prevê prazo para a atribuição. Seria importante que o governo detalhasse de forma mais clara”, avalia Araújo.
A regulamentação traz também uma importante novidade para estudantes brasileiros: o fim da exigência de comprovação de “meios de subsistência” para atribuição dos vistos para ensino superior.
“Era uma exigência que limitava muito a atribuição dos vistos, porque muitos, além de pagar uma mensalidade cara em euros tinham de comprovar dispor de quantias elevadas”, explica.
Os novos vistos tiveram tramitação expressa no Parlamento e são uma das principais apostas do governo para combater a escassez de mão de obra em Portugal. O país depende de imigrantes para o equilíbrio populacional e para a manutenção da economia, e há anos dispõe de um mecanismo que permite a regularização de estrangeiros que entrem como turistas e permaneçam de forma irregular para viver e trabalhar.
Ainda que os processos sejam lentos e burocráticos, podendo levar ao menos dois anos, essa tem sido a principal rota de imigração da comunidade brasileira, que cresce continuamente desde 2017.
Dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras indicam que havia, até junho, 252 mil brasileiros com residência legal em Portugal. O número real, porém, é bastante superior, uma vez que a estatística não inclui quem tem dupla cidadania portuguesa ou de outro país da União Europeia nem os que estão em situação migratória irregular.