Após a grande massa de brasileiros vindo para Portugal houve também um grande aumento de dinheiro sendo transferindo ao Brasil. Segundo o Banco Central, que vêm sustentando um crescimento vertiginoso nas remessas de recursos do país europeu para o Brasil.
Para se ter uma ideia, somente nos primeiros três meses deste ano, essas transferências totalizaram US$ 76,8 milhões (R$ 391,7 milhões). É mais que o dobro do observado no mesmo período de 2017, de US$ 33,9 milhões (R$ 172,9 milhões), quando o fluxo de brasileiros para terras lusitanas ganhou ímpeto. Pelos dados do BC, esses valores só são superados pelas remessas oriundas dos Estados Unidos e do Reino Unido, onde as comunidades brasileiras são maiores e estão consolidadas há tempos.
Um levantamento do Observatório de Migrações apontou que, de todos os recursos enviados aos países de origem por estrangeiros que vivem em Portugal, metade pertence a brasileiros. Tal concentração, afirma a economista Sandra Utsumi, diretora executiva do Banco Haitong, é explicada pelo forte aumento na migração de cidadãos do Brasil para território luso.
Os brasileiros representam um terço de todos os estrangeiros oficialmente registrados em Portugal. São mais de 250 mil, dos quais 47,6 mil obtiveram autorização para morar na terra de Cabral nos primeiros seis meses de 2022. “Há muitos estímulos para que os brasileiros migrem para Portugal, a começar pelas constantes crises econômicas do Brasil”, diz.
Portugal incentiva a vinda de estrangeiros:
Em entrevista ao Estado de Minas a economista lembra que, a partir do fim dos anos de 1980, houve uma migração grande de brasileiros para o Japão, os dekasseguis, descendentes de japoneses que haviam se mudado para o Brasil muitas décadas antes. Tempos depois, o fluxo de brasileiros se direcionou para os Estados Unidos e para a Inglaterra — em menor intensidade. Agora, o foco é Portugal. “O Japão endureceu muito as regras para imigrantes. O mesmo ocorreu nos Estados Unidos e, mais recentemente, na Inglaterra, por causa do Brexit”, explica. “Em Portugal, está ocorrendo o contrário, o governo está incentivando a vinda de estrangeiros”, acrescenta.
Perfil variado O fluxo mais recente de brasileiros para Portugal é disseminado, aponta o economista Roberto Luis Troster. “Estamos falando de trabalhadores menos qualificados, de empresários, de profissionais com nível superior, de aposentados, de empreendedores e nômades digitais”, ressalta. Para ele, esse movimento só tende a aumentar. “Infelizmente, não vemos melhora econômica no Brasil tão cedo. A perspectiva é de que o país cresça, no máximo, 0,5% em 2023, independentemente de quem seja o vencedor nas eleições presidenciais”, frisa. “Além disso, temos um país extremamente polarizado politicamente, e o debate se restringe a temas como inflação, pobreza e gastos públicos. Em Portugal, e em boa parte da Europa, o pensamento está voltado para a nova economia e as oportunidades que a tecnologia traz”, emenda.
Na avaliação de Troster, que comandou o Departamento Econômico da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), ainda que os salários em Portugal sejam menores do que na maioria dos países europeus — o piso atual é de 705 euros (R$ 3,8 mil) —, estão acima dos pagos no Brasil. “Portanto, Portugal acaba sendo uma oportunidade de melhoria de vida e pode se tornar uma porta importante de entrada para a Europa, caso os trabalhadores adquiram o direito de residência”, afirma. Para ele, os jovens são os mais desencantados com o Brasil e os mais propensos a deixar o país. Contudo, mesmo aqueles que têm a vida estabelecida não se acanham em vender tudo e recomeçar a vida do outro lado do Atlântico.
Professor do Insper, Ricardo Rocha assinala que há um conjunto de fatores a estimular os brasileiros a migrar para Portugal, não só os econômicos. “Há a facilidade da língua; o clima não é tão frio no inverno como no restante da Europa; a cultura brasileira é parecida com a portuguesa; e tem a segurança pública. As pessoas podem transitar tranquilamente pelas ruas, de dia e à noite”, diz. No entender dele, não só aumentarão as remessas de recursos de brasileiros de Portugal para o Brasil, renda oriunda principalmente do trabalho, como também crescerão as transferências para o país europeu, pois parcela das classes média e alta quer fixar residência definitiva em terras lusitanas.
Os registros do Banco Central confirmam isso. Entre janeiro e março deste ano, foram remetidos US$ 105 milhões (R$ 535 milhões) do Brasil para Portugal. Parte significativa desses recursos foi para a compra de imóveis, que são mais baratos do que em regiões como Itaim (São Paulo), Lago Sul (Brasília) e Leblon (Rio de Janeiro), pois, lembra o professor do Insper, muitos descendentes de portugueses conseguiram cidadania, graças às mudanças nas leis.
Agora, o país europeu quer atrair, sobretudo, mão de obra para suprir a demanda em áreas que vão da hotelaria à medicina. Os trabalhadores que obtiverem esses vistos especiais, que duram até 180 dias e permitem que as pessoas procurem emprego nas cidades portuguesas, certamente vão remeter parte dos salários para o Brasil.
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